Pois é, precisamos reconhecer que a palavra “guerra” assumiu um lugar importantíssimo em nossas conversas, preocupações, noticiários, debates políticos e debates religiosos. O mundo parece um barril de pólvora prestes a explodir. Nada parece acalmar os ânimos bélicos dos que querem lutar por causas justas em tantos lugares diferentes. Seria este o começo do fim do mundo? Como encontrar a paz neste ambiente tão cheio de guerras?
Há um lindo hino cuja primeira frase é “Haja paz na terra a começar em mim” (Hinário para o Culto Cristão, n. 333). Então, como primeiro passo, é necessário examinar o próprio coração, para poder cultivar a paz pessoal, na esfera particular. E a Bíblia afirma que isto é possível, prometendo que o Senhor “guardará em perfeita paz” a mente daquele que confia em Deus (Is 26.3). Sendo assim, “colar” nossa mente e coração no poder e na sabedoria de Deus é o primeiro passo. A primeira guerra que precisamos vencer é contra nossa própria mente, a qual deve ser entregue ao nosso Pai Celestial, que afastará de seus filhos todo o medo e inquietação. Isto inclui nosso lar, nossa família, igreja, trabalho. A paz na mente e no coração é contagiosa, assim como o é a preocupação excessiva. A mente tem um enorme poder de influência, tanto na área pessoal como na área dos relacionamentos. Ela comanda palavras e perspectivas quanto ao futuro. Há perigo de contaminação na convivência com pessoas amargas (Hb 12.14-15). A paz traz esperança, e a esperança de dias melhores deve estar sempre presente, pois somos filhos de Deus.
O segundo passo para viver em paz no mundo em guerra é a oração. Muitas coisas preocupam as pessoas atualmente. Sabemos que pode haver uma crise mundial de recursos, de alimentos, de empregos. Há violência e guerra dentro de nossas cidades, drogas, bebidas e injustiças acontecendo o tempo todo. Sim, este é um momento humanamente complicado para se viver. Porém, o recurso está na Palavra de Deus, que deve ser obedecida fielmente. O Apóstolo Paulo escreve à igreja em Filipos: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Fp 4.6-7, NVI).
Poderíamos pensar: Como assim? Orar e dar graças pelo que está acontecendo? É difícil, porém, a Bíblia recomenda claramente: “Não andem ansiosos por coisa alguma”. Esta é uma ordem do Espírito Santo. A ansiedade tem feito parte da natureza humana. Somos emotivos, medrosos, não sabemos nosso futuro. Mas Deus sabe tudo o que vai acontecer. Por isto, em seguida, Paulo escreve a respeito de “apresentar os pedidos”, um a um. Lembro da história do rei Ezequias que, ao receber as cartas ameaçadoras de Senaqueribe, rei da Assíria, entrou no templo e as apresentou ao Senhor (2 Rs 19.14). Vale a pena reler. E Ele resolveu a questão de uma maneira surpreendente.
Também é surpreendente o que Paulo escreve em seguida, afirmando que a paz de Deus “excede todo o entendimento”. O verbo “exceder” se refere a “ir além, ultrapassar, superar”. Há motivos para ter paz no mundo em guerra? Racionalmente, não. Mas a paz que vem do Senhor não precisa ser explicada, pois vai muito além de qualquer lógica ou probabilidade. Além disto, o mesmo texto promete que esta paz “guardará o coração e a mente”, ou seja, servirá de proteção contra o estresse, contra o pânico e contra a descrença geral da sociedade.
O terceiro passo para viver em paz no mundo em guerra é ter absoluta certeza de que Deus tem o controle em suas mãos. A linha histórica da terra e do ser humano tem rumo e direção. Nada está fora do controle de Deus. Muitos textos bíblicos declaram esta verdade, afirmando que “O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus e como Rei domina sobre tudo o que existe” (Sl 103.19, NVI). Nenhum de seus planos “será frustrado” (Jó 42.1).
Há muitas coisas que nossa limitada mente humana não pode entender ainda. Guerras injustas, famílias destroçadas, perseguição cruel aos cristãos do mundo, a riqueza e poder dos ímpios, a poluição causada pela ganância e descuido do próprio ser humano, a criação de armas mais e mais destrutivas e perigosas, nada é explicável. Mas também devemos entender que nossa mente é um “nada” diante da mente de Deus.
Um dos mais impressionantes hinos de louvor da Bíblia refere-se a este fato. “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?” (Rm 11.33-34). De fato, não há como conhecer tudo o que o Senhor planejou, nem os detalhes de tempo e modo nos acontecimentos de guerra atuais. O que se pode confiar firmemente, é que, ao memo tempo em que a mente humana não alcança a infinitude dos pensamentos divinos, deve-se confiar, de todo o coração, que Deus sabe o que faz, sabe o que vai acontecer no mundo, e quando a linha histórica do mundo vai se definir finalmente.
Desta forma, pode-se entender o que Jesus declarou aos seus discípulos: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (Jo 14.27). Pode-se perceber aqui que a paz de Jesus é diferente, pertence a ele, e é dada aos que nele creem. Não está relacionada a nada que o mundo promete ou deixa de prometer. Não está relacionada a costumeira saudação hebraica “shalom”. Não tem relação com a guerra ou a tranquilidade em que o mundo se encontra, pois vem do próprio Deus.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, o novo e sangrento conflito entre o Hamas e Israel, as lutas entre etnias diferentes na África, onde muitos cristãos são perseguidos e mortos, tudo isto é muito triste. Entretanto, não há motivos para interpretações apocalípticas ou políticas precipitadas. As profecias bíblicas se cumprirão no tempo e da maneira que Deus planejou. A Bíblia manda orar pelos que sofrem, orar pelos que são injustiçados, mas em nenhum momento, manda que percamos a paz preciosa que só Jesus pode dar. O cultivo da paz individual da mente e do relacionamento com o próximo, a oração constante, cheia de fé no poder de Deus, e a confiança de que o Senhor está no controle de todos os acontecimentos é o que todos precisam para viver em paz no mundo em guerra.
Hariet Wondracek Kruger
Professora da Faculdade Batista Pioneira
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